Era muito pouca a diferença de idade entre os primos direitos João e Leonor. Ele, nascido em Lisboa em 1455, ela nascida em Beja três anos mais tarde. Apesar da distância geográfica, os dois estavam destinados a uma convivência que iria ultrapassar os laços familiares que os ligavam.
O berço em que ambos nasceram reservava-lhes um destino muito diferente e mais grandioso do que o de quaisquer outros primos direitos. Filhos de reis e de infantes de Portugal, logo nos primeiros meses de vida foram prometidos um ao outro em casamento. E a infância que viveram juntos criou as fundações do sólido reinado que mais tarde viriam a assumir, ele como D. João II e ela como Rainha D. Leonor.
Mas, antes disso, foram o “Príncipe Perfeito” e a “Princesa Perfeitíssima”, cada um à altura do glorioso destino que os aguardava. João era calmo, pacífico, instruidíssimo e muito sagaz ou, por outras palavras, apenas perfeito. Leonor era igualmente instruída, devota e muito caridosa. A ele o país ficaria a dever a aposta na política da expansão marítima; a ela, a criação da rede das misericórdias que quinhentos anos depois ainda continua a prestar apoio aos mais desfavorecidos.
No entanto, a história de João e de Leonor não foi apenas coroada de glórias e de sucessos, pais de um único filho viram o seu herdeiro perder a vida com apenas dezassete anos, num trágico acidente de cavalo. Mais do que retirar um filho aos pais, este episódio ditou o fim das pretensões de uma união ibérica sob a alçada de Portugal, já que meses antes o Príncipe herdeiro tinha casado com Isabel, filha mais velha dos reis católicos de Castela e Aragão.
Com a morte de Afonso, e colocado o problema de sucessão, João quis tornar seu herdeiro um filho ilegítimo, que Leonor, sempre compreensiva e caridosa, tinha aceitado criar como seu, mas que não pretendia ver a ocupar o trono que deveria ter sido do seu falecido filho.
João defendia que devia ser sucedido pelo seu filho Jorge, Leonor insistia que a sucessão fosse assegurada por Manuel, o seu irmão mais novo. Chamada a pronunciar-se, a Santa Sé negou a João as pretensões de ver o seu filho ilegítimo no trono de Portugal e confirmou como herdeiro da coroa portuguesa o irmão de Leonor.
Este terá sido o grande momento de discórdia entre João e Leonor que sempre manifestaram um forte entendimento e uma união que sobreviveu até ao assassinato de um outro irmão de Leonor às mãos de João. Numa tentativa de afirmação do poder régio e do controlo das pretensões da nobreza, João apunhalou o cunhado e Leonor manteve-se sempre ao lado do marido.
Talvez cansados por esta guerra sucessória, os dois terminaram a vida separados, com João a morrer sozinho no Algarve e Leonor em Lisboa entregue à caridade e à religião, de onde só se afastava para percorrer a via medieval galega nas suas viagens até Caldas da Rainha, em que pernoitava sempre na Aldeia Galega da Merceana, que lhe tinha sido doada pelo seu primo e marido.
Francisco Gonçalves Pereira Abelha, 14 anos | 9º A nº 6 – EB 2/3 Visconde de Chanceleiros
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Aldeia Galega da Merceana
Bibliografia:
Larousse – Enciclopédia Moderna – Círculo de Leitores
Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, Volume I –Publicações Alfa
“De princesa a rainha-velha: Leonor de Lencastre”- de Isabel dos Guimarães Sá