Concurso literário: o encontro inesperado

Pela brisa da manhã, Júlia levanta-se, como sempre, bem disposta, enquanto o seu marido, Manuel, permanecia a dormir.

Júlia veste a sua roupa habitual, uma simples túnica amarela e uma saia comprida em azul escuro, já com algumas manchas de sujidade das couves que tinha apanhado no dia anterior. Na sua cabeça pôs um lenço atado atrás da nuca, deixando alguma parte do seu cabelo grisalho de fora.

Ao sair pela porta, o sol ainda não tinha nascido e os pássaros ainda não tinham acordado, deveriam ser umas cinco horas da manhã. Embora soubesse que tinha muito trabalho a fazer, deixou-se ficar ali…deixando que a brisa lhe embatesse contra a cara.

Quando reparou já se fazia tarde, Júlia despachou-se o mais rápido que pôde. Calçou as suas tamancas e correu para o campo. O senhor não haveria de gostar da sua tardia chegada. As vinhas estavam carregadas e era nec essário apanhá-las. O seu marido preguiçoso ainda não chegara.

Manuel chegara entretanto e diz-lhe que ouviu dizer na taberna que a rainha ia passar pela grande aldeia.

– Pela Aldeia da Galega?

– Conheces outra?

– Tudo bem, disse Júlia. Mas agora vai trabalhar. A comida é precisa à nossa mesa.

Manuel foi então trabalhar, com a sua enxada, para os campos, enquanto a sua mulher apanhava as uvas.

À tarde, Júlia deixa o campo e pega o caminho de terra. O marido tinha tomado outro. Aquele que ficava mais perto. O vinho era a bebida de todos os aldeões, mas Júlia não aceitava que Manuel a bebesse em grandes quantidades. E logo agora que sabia da notícia, quereria saber mais pormenores.

Pensativa, sentiu barulho atrás de si. Era uma carruagem.

Quem seria? O cocheiro parou e uma dama chegou à janela. Perguntou se a Aldeia Galega era longe. Júlia respondeu que não.

Para espanto de Júlia, a dama saiu. O seu vestido era lindo, de veludo vermelho escuro debruado a ouro e com uma capa lindíssima.

Desajeitada, Júlia pergunta:

-A Senhora…precisa de ajuda?

-Por a caso, sim –mandou um sorriso a Júlia– gostava de saber se sabe onde fica a Aldeia Galega e, mais uma vez, sorriu.

Júlia, incrédula com o que se estava a passar, respondeu:

-Sim. É logo ali. Uma aldeia pequenina, mas muito acolhedora. É lá que costuma ficar a rainha D. Leonor quando vai a banhos às Caldas da Rainha.

– A dama agradeceu e deu-lhe duas moedas. Júlia recusou. Mas a dama insistiu.

-Oh! Muito obrigada, senhora.

– Já agora, como te chamas?

– Júlia, senhora.

Júlia nem queria acreditar, já fazia tempo que ninguém lhe dava nada. E muito menos uma moeda. O mais impressionante foi a gentileza com que lhe falou.

Quando se preparava para partir disse que a veria nos festejos da Aldeia Galega.

-Lá podes falar comigo. Leva-me da tua horta, produtos da terra: cebolas, couves, cenouras e alguns frutos: maçã, peras…

-Júlia, depois de ouvir estas palavras, ficou cada vez mais emocionada e quase não conseguiu responder-lhe. Depois de um breve momento, diz:

– Obrigada minha senhora.

– Como hei de procurá-la se não sei seu nome?

– Leonor. Apenas Leonor.

-Sim senhora.

A carruagem parte. Júlia começou a pensar na coincidência do nome. A dama tinha o mesmo nome da rainha. E também ia para aldeia Galega e Manuel tinha ouvido que haveria festa na aldeia.

– Mas não poderia ser. Nunca.

Quando chegou a casa, começou logo a pensar no que haveria de levar. Os produtos tinham que ir fresquinhos e era necessário uma cestinha para a dama.

Os outros seriam vendidos para os aldeões que se deslocassem à Aldeia.

As maçãs, os peros, as couves, as cenouras, tomates, abóboras, melancias, melão eram as melhores da região e de certeza que seriam vendidas rapidamente. Não poderia esquecer-se de levar uns para a dita senhora.

Quando chegou à feira, procurou a bela dama e, para seu espanto, percebeu que era a rainha.            

Fim

Texto elabora por: Inês Paulo Raposo | Idade: 14